‘Registrou três filhos em meu nome e viveu por 50 anos como se fosse eu’, diz belo-horizontino que teve identidade roubada
“Eu não sou ninguém”, desabafa Antônio Fraga, de 73 anos, belo-horizontino vítima de um longo processo de roubo de identidade que remonta à década de 1980. O idoso é considerado morto pelo Estado brasileiro desde novembro de 2023, quando um outro homem, que se passava por ele, faleceu em Aparecida, em Goiás.
O farsante, que inclusive deixou um rastro de assassinatos contra mulheres em Minas Gerais entre 1983 e 1985 e chegou a ser procurado pela polícia do estado à época, se apropriou de um documento perdido por Antônio e, para escapar da perseguição policial, se mudou para o Centro-Oeste brasilero. Toda a documentação do caso foi encaminhada a Rádio Itatiaia pelo idoso.
Então, o belo-horizontino pediu a cópia do processo que deu fim à sua aposentadoria e conseguiu o contato de uma das filhas do farsante. “Fizemos investigações até descobrir tudo. Ele tinha registrado três filhos em meu nome e vivido como se fosse Antônio por mais de 50 anos”, se espanta. Depois disso, um martírio judicial – que se estende há mais de um ano – começou.
Entre indas e vindas, Antônio ainda não conseguiu que o cartório, em Goiás, anule seu atestado de óbito, o que o impede de fazer até coisas triviais, como ser internado, vender o carro ou quitar dívidas, que já começam a se acumular, em seu nome. “Como minha esposa vai me enterrar quando eu falecer de verdade?”, questiona.
A filha do farsante, que não será identificada, entrou com um processo para tentar mudar o nome do pai na certidão de nascimento e, então, ajudar na ação que tenta reverter a morte-fantasia de Antônio.
“É quinze dias (de prazo) para cá, quinze dias para lá e nada é resolvido. Ele morreu em 2023 e até agora nada”, lamenta o idoso. De acordo com os documentos encaminhados à reportagem, a Justiça mineira chegou a requisitar que o cartório em Goiás, que registrou a morte do farsante em nome de Antônio, retifique o documento, mas isso ainda não ocorreu.
Fonte: Itatiaia