Disputa entre PCC, CV e TCP, que hoje amedronta MG, elevou homicídios no país na última década

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A disputa por território entre as duas maiores facções do Brasil – Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) – foi apontada como a principal causa para o grande aumento nos homicídios registrados no Brasil entre os anos de 2010 e 2017, segundo o Atlas da Violência 2024, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta terça-feira (18 de junho). A conclusão do estudo acende o alerta para a segurança pública de Minas Gerais, que, nos últimos anos, tem acompanhado com temor o avanço dessas facções tanto em Belo Horizonte como no interior do Estado

Durante análise feita na apresentação do estudo, o técnico de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado (Diest/Ipea), Daniel Cerqueira, destacou que os números absolutos de homicídios no país se mantiveram estáveis de 2019 a 2022, porém, nos anos anteriores, eles sofreram um “boom” que pode ser constatado nos gráficos do Atlas.

“Analisando apenas os últimos 10 anos, a gente vê que, de 2012 a 2017, houve um crescimento dos homicídios, justamente quando eclodiu a guerra do narcotráfico no Norte e o Nordeste, envolvendo as maiores facções do país – PCC e CV – com aliados regionais”, argumentou o técnico do Ipea. 

No próprio estudo, o instituto federal aponta que, a partir da década de 2010, a disputa “mais aguerrida” entre as organizações criminosas “por territórios e pelo controle do corredor internacional do narcotráfico”, fez estourar uma guerra intensa. “Nesse período, o número de mortes aumentou sobretudo nos municípios que cortam a região do Alto do Juruá, no Acre, e avançam por toda a rota do Solimões, chegando até as capitais nordestinas, quando a cocaína procedente da Bolívia e Peru é exportada para outros continentes”, detalha o Atlas.  

Enquanto o Norte e Nordeste são de suma importância para a rota das drogas que saem da Bolívia e Peru, e supostamente abastecem o CV, Minas Gerais é território essencial para a rota do Paraguai, que é dominada pelo PCC desde 2016, quando a facção paulista promoveu o assassinato cinematográfico do “rei da fronteira”, o megatraficante brasileiro Jorge Rafaat Toumani. 

Devido à sua importância geográfica, já que fica no “meio” do caminho entre o Paraguai e São Paulo, consequentemente, a malha rodoviária de Minas é usada por terra pelos traficantes, enquanto as áreas rurais servem como ponto de abastecimento de aeronaves. Não à toa, Minas foi apontado como o 2º Estado com mais integrantes do PCC no país, conforme apurado por O TEMPO em setembro de 2023, quando o “sindicato do crime” completou 30 anos de surgimento.

Temor em Minas

Entretanto, a aparente “paz” que reinava entre os criminosos mineiros parece ter chegado ao fim nos últimos anos. Nesta semana, moradores dos bairros São Mateus e Estrela Dalva, em Contagem, na região metropolitana de BH, registraram em vídeos confrontos armados entre criminosos em plena luz do dia, sendo que, conforme apurado pela reportagem, a disputa envolve justamente as duas maiores organizações criminosas do país. 

Ao mesmo tempo, em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, os seus moradores têm vivido com medo após, em abril deste ano, circular nas redes sociais um vídeo de um traficante conhecido como “Andinha” e “Bala”, apontado como o número 1 do CV em Minas, cercado de pelo menos dez homens armados com fuzis. 

Nas imagens, o suspeito aparece ameaçando invadir um bairro conhecido como “Eucalipto”, onde o PCC dominaria até então. Como consequência da “guerra” entre as facções, até maio deste ano a cidade já tinha registrado, segundo dados repassados pela Polícia Militar (PM) aos veículos locais, 27 assassinatos, oito a mais que as 19 mortes registradas em todo o ano de 2023. 

No final de maio, o jornal o tempo divulgou reportagens sobre o estabelecimento de uma organização criminosa, o Terceiro Comando Puro (TCP), no aglomerado Cabana do Pai Tomás, na região Oeste da capital mineira. O grupo criminoso é aliado ao PCC e é considerado atualmente o principal inimigo do CV no Rio de Janeiro. 

O especialista em segurança pública Jorge Tassi destaca que o apadrinhamento de facções mineiras pelo CV e PCC é fruto de um “momento de mudança de poder do crime organizado”. “Essas facções dialogam entre si. O Comando Vermelho e o PCC têm diálogos para ocupação dos espaços na sociedade, eles fazem parcerias até”, argumenta. 

Segundo ele, mortes acontecem como consequência da substituição de líderes do que ele chamou de “mini-franquias” das grandes facções. “Quando o dono da ‘franquia’ é um empecilho, o que acontece é que cai a escala de poder inteira. Então, vai morrer de 10 a 20 pessoas que estão compromissadas com o outro grupo. Depois que ‘acabam’ as mortes, não acontecem mais mortes. São disputas pontuais, mas, o que a gente percebe, é que eles negociam, se equilibram depois de determinadas circunstâncias”, conclui Tassi. 

Fonte: Jornal O Tempo